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66 – A Família (La Famiglia) – Itália (1987)

A Família (La Famiglia) – Itália (1987)
Direção: Ettore Scola
Roteiro: Graziano Diana; Ruggero Maccari; Furio Scarpelli; Ettore Scola
A trajetória de uma família italiana, desde o início do século 20 até os dias de hoje. Quem faz esta retrospectiva sentimental é o personagem Carlo que, em seus 80 anos de vida, presenciou mortes, nascimentos, revoluções e guerras.

Difícil não se intrigar com esse filme. A Família preza pela delicadeza em diversos aspectos. Nas suas imagens, com movimentos de câmera precisos e nos seus planos subjetivos, como quando Beatrice toma o seu chá, flertando com Carlo, e quando sua irmã, Adriana, faz o mesmo, dessa vez em uma roda de dança.
É delicado, também, nas transformações físicas e psicológicas de seus personagens. São passagens de tempo que fazem ratificar que a vida é assim mesmo, passa que a gente nem sente. E os personagens, são naturais, banais, tal como nós. E estão sujeitos a encontros e desencontros, erros e acertos, certeza e dúvidas.
E, por fim, expõe sua delicadeza ao mostrar a transformação de uma Itália em tempos de (pós)-guerra, a partir das próprias transformações da família. E o melhor de tudo, sentimos as mudanças no país, sem que a câmera saia da casa em um só momento. Às vezes, dá a impressão que vai sair e seguir os personagens que se vão. Mas, tal como Carlo, ela nunca vai, e volta para o universo de sua casa. A câmera é realista, sem precisar sair pelas ruas italianas e flagrar as suas ruínas.
Mas, de tudo isso, o que prevalece é a vontade de fazer uma festa, reunir a família e tirar uma memorável foto.
Ah, vale citar as diversas referências que o filme traz, algo que eu, particularmente, gosto muito. Então, para não perder o hábito, fui atrás delas:
1 – Na seqüencia inicial, Carlo cita o poeta italiano Giosuè Carducci: “Il leone repubblicano è diventato il barboncino della Regina” (O leão republicano se tornou o cachorrinho da Rainha). Não achei o texto ou poema que contivesse essa frase. Mas descobri que o poeta é esse aqui e achei esse poema aqui.
2 – No instante 00:13:41, o pai de Carlo diz que eles não vão passear na Praça Esedra. A Piazza Esedra, hoje chamada de Piazza della Repubblica é essa aqui.
3 – No instante 00:17:27, Carlo cita De Sanctis, ao discutir a tentativa do escritor, em “criar um nexo entre a literatura e a sociedade civil”.
4 – No instante 00:17:41, é questionado “qual a meta da arte”. E é citado Tabanelli (que eu não sei quem é, nem achei nada dele).
5 – No instante 00:28:30, é feita uma citação, que eu não consegui identificar o autor: “Um só indivíduo reúne o poder e somente a massa, a multidão, unida em uma pessoa, constitui o Estado. Esta é a geração do grande Leviatã.”
6 – No instante 00:22:59, é citado o compositor italiano Gioachino Rossi. E eu descobri que ele compôs essa música, literalmente, clássica, aqui.
7 – No instante 00:30:34, Adriana disse que vai viajar para um conservatório em Paris, para ter aulas com Marguerite Long. Descobri que ela é pianista e uma das composições dela é essa aqui.
8 – No instante 00:33:43, Carlo diz que trabalha no Liceo Umberto I, que é esse aqui.
9 – No instante 00:35:44, Adriana diz que irá se apresentar na Sala Pleyel, que é uma das maiores salas de concerto de Paris.
10 – No instante 00:45:07, Carlos diz que se tornou adjunto universitário na Cátedra do professor Sapegno. Não dá para ter certeza, mas acho que ele se referia a Natalino Sapegno.
11 – No instante 00:49:08, é citado o verso “Colhe a rosa e chora”, apontado como pertencente da obra Le mie prigione do escritor Silvio Pellico, que tem uma história de vida muito interessante, apesar de trágica.
12 – No instante 00:49:27, o filho de Carlo mostra ao tio o livro “A volta ao mundo por um rapaz de Paris”, do escritor Louis Boussenard. Na Estante Virtual esse livro custa a bagatela de R$ 450,00. Quem quiser, pode comprar aqui.
13 – No instante 00:55:51, o personagem diz que faz parte do “Partido da Ação”, de Ferruccio Parri,  que foi um político anti-fascista.
14 – No instante 00:57:44, uma das mulheres comenta que foi no teatro La Scala para o concerto de Arturo Toscanini, um dos maiores maestros italianos e declaradamente anti-fascista. Vale a pena ler nesse link do Wikipédia, a sessão “oposição ao governo fascista italiano”, para ver que o cabra era retado. Uma de suas apresentações, aqui.
15 – No instante 01:00:09, é citada a canção Casta Diva, da cantora Maria Callas.
16 – No instante 01:08:22, a TV transmite o naufrágio do navio Andrea Doria, que, tempos depois, serviu de inspiração para a composição da Legião Urbana Andrea Doria, onde ele justifica a escolha do título aqui; e inspirou também o filme de suspense Navio Fantasma, cujo modelo do navio representado foi inspirado no Andrea Doria.
17 – No instante, 01:22:33, é interpretado um diálogo relativo aos personagens Alfredo e Violeta, referente à ópera La Traviata, de Verdi (que inclusive, tem uma apresentação de Maria Callas).
18 – No instante 01:24:25, é citada uma frase de Tchekov: “se você tem medo da solidão, não se case”. Outras frases dele podem ser vistas aqui.
19 – No instante 01:27:55, a babá chama a criança para ver na TV o Mago Zurli.
20 – No instante 01:48:34, o filho de Carlo o convida para assistir Bontá Loro, que me parece ser um programa de estúdio, que passa até hoje, como pode ser visto aqui.
Ok, eu não sou maluco. Apenas me divirto caçando referências nos filmes, e, quando me deparo com um tão rico, é inevitável ir atrás delas.
Minha nota: 9,0
IMDB:  7,7
MelhoresFilmes: 7,2
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