96 – Ônibus 174 (Ônibus 174) – Brasil (2002)
Direção: José Padilha; Felipe Lacerda
Roteiro: José Padilha; Bráulio Mantovani
Documentário sobre o ônibus do Rio de Janeiro que foi sequestrado por um morador de rua. O acontecimento foi transmitido ao vivo em cadeia nacional e culminou na morte do jovem.
“Foi a polícia que matou os colegas do Sandro, na Candelária. E a polícia completou o trabalho. É como se as duas pontas da história se fechassem. À polícia, cabe o trabalho sujo que a sociedade não quer ver, mas que em algum lugar obscuro do seu espírito deseja que se realize. Que se anulem os Sandros. Que os Sandros desapareçam das nossas vistas. Nós não queremos ver essa realidade. Nós não podemos suportar essa realidade. Então, a invisibilidade é, afinal, reconquistada, pela produção policial da invisibilidade; da anulação que a morte gera.”
E o pior de tudo talvez nem seja a chacina da Candelária, a péssima estrutura dos presídios, a falta de acolhimento de crianças e adolescente pelo Estado e pela sociedade, nem o despreparo policial. Talvez o pior de tudo é ver a ira da população, partindo para cima do Sandro já imobilizado, gritando palavras de ódio e prazer pela morte do bandido. Isso faz crer que o ciclo de ódio e vingança nunca é interrompido e que somos, de fato, o Cu do Mundo, cuja triste nação, na época mais podre, compõe-se de possíveis grupos de linchadores.
O furto, o estupro, o rapto pútrido
O fétido seqüestro
O adjetivo esdrúxulo em U
Onde o cujo faz a curva
(O cu do mundo, esse nosso sítio)
O crime estúpido, o criminoso só
Substantivo, comum
O fruto espúrio reluz
À subsombra desumana dos linchadores
A mais triste nação
Na época mais podre
Compõem-se de possíveis
Grupos de linchadores
José Padilha e Felipe Lacerda, com uma aula de montagem cinematográfica, se tornam verdadeiros Advogados do Diabo: atirem a pedra no pequeno, mas um dia você vai se queimar.
Quem é o vilão dessa história?
Minha nota: 8,2
IMDB: 7,8
ePipoca: 6,7
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