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143 – Medos Privados em Lugares Públicos (Coeurs) – França (2006)

Direção: Alain Resnais
Roteiro: Alan Ayckbourn; Jean-Michel Ribes
Em Paris, durante o inverno, as pessoas buscam calor humano e romance. Apesar das diferenças entre cada um, seis personagens com os mesmos objetivos terão suas vidas cruzadas.
Coeurs tinha tudo para ser um filme igual a tantos outros: um recorte da vida de alguns personagens, que se cruzam ou não, revelando seus dramas e questões pessoais. Poderia ser só isso, se não fosse o primor técnico que Alain Resnais utiliza para traduzir em imagens algo que dispensa ser dito em palavras.
Por exemplo, não precisa ninguém contar nada sobre o passado de Thierry para nos aproximarmos dos seus sentimentos mais íntimos. Basta detalhar o quadro. O olhar da imagem, que possivelmente é do seu pai, já diz muito. É um olhar que está atento aos passos do personagem e o censura. Como se assumisse uma presença física que observa Thierry fazer algo que o próprio personagem julga como errado ou extremamente ousado. Isso ajuda a explicar o tamanho pudor que ele e sua irmão têm ao ser flagrado olhando a fita cassete e o quanto o sentimento de culpa lhe consome.
A difícil relação com o pai, inclusive, justifica não só os medos de Thierry, mas de todos os outros personagens masculinos. Dan, que, ao mesmo tempo que é brigado com o pai, repete um pouco de sua personalidade; e Lionel que também possui uma história mal resolvida com o seu pai, provavelmente por ele ser homossexual, como sugere uma rápida cena, mas que não é dito, nem explicado, tampouco confirmado.
E aí que está a grande novidade do filme. Muitos dos medos atuais dos personagens são frutos de um passado mal-resolvido, que gera seus desdobramentos no presente. Dan fala, mas não explica o motivo de ter sido expulso do exército. Mas, fica claro para o espectador o quanto isso pesou na sua auto-estima, justificando um pouco do seu comportamento apático.
Enfim, Coeurs é extremamente detalhista, como se o diretor montasse cada cena de forma milimétrica, para construir um sentido que vai além das palavras. E ele faz isso com zooms de supetão; com uma neve que cai no meio de uma sala; com uma câmera que passeia pelo teto, em um balé quase teatral; com quadros e pinturas; com uma fotografia e uma paleta de cores que, em uma mesma seqüencia, muda repentinamente; e passados citados, mas não revelados de forma verbal.
É difícil decifrar o passo a passo de cada cena e o que elas querem dizer. No entanto, a cada nova descoberta, o filme se revela rico e extremamente original. Por fim, o filme sugere que todos possuem seus medos particulares, construídos ao longo de suas vidas e, tanto a sua manifestação, quanto a sua superação, muitas vezes só ocorrem no privado. Transpô-lo e enfrentá-lo em público é tarefa das mais difíceis.


Minha nota: 8,0
IMDB:  7,0
ePipoca: 7,5
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