201 – Os Crimes de Snowtown (Snowtown) – Austrália (2011)
Direção: Justin Kurzel
Roteiro: Shaun Grant
Jamie vive com sua mãe e os irmãos em um subúrbio australiano violento. Depois de uma experiência traumática de abuso por parte de um vizinho, as coisas parecem tomar um rumo melhor quando a mãe começa a namorar o afetuoso John Bunting. Defensor ferrenho da justiça com as próprias mãos, Bunting logo consegue mobilizar um pequeno grupo para vigiar e punir os pedófilos da região.
Entre 1992 e 1999, um pequeno grupo liderado por John Bunting cometeu 12 assassinatos em cidades da Austrália. Esse foi o caso mais marcante do País, relacionado a serial killer. As vítimas preferenciais eram supostos pedófilos e homossexuais.
O caso só foi descoberto depois que tonéis contendo os restos mortais das vítimas foram localizados, em um cofre de um antigo banco. Identificados, foi possível constatar que antes de morrer, as vítimas sofreram diversos tipos de tortura, tão pesados que nem vale à pena descrever.
John Bunting e mais outros envolvidos foram presos e ainda cumprem pena. Um dos que participaram de alguns assassinatos foi James Vlassakis. Na época, ele tinha 13 anos quando foi abusado sexualmente e viu em John uma figura paterna e protetora, com quem passou a se relacionar e se envolver com os crimes.
Durante o julgamento, um dos apelos era sobre o lado “justiceiro” dos crimes. Um pai, envolvido com o grupo, chegou a dizer que todos desejavam fazer o que John fez com o pedófilo que abusou de seus filhos. De fato, essa questão traz uma reflexão quase existencial. Até onde a lógica da “a vítima merecia” justifica a justiça com as próprias mãos? Isso me lembra o caso do Ônibus 174, onde o criminoso foi linchado pela população e, em seguida, assassinado pela polícia, todos envolvidos no calor da ação. E do filme Tempo de Matar, onde o personagem mata os dois homens que estupraram sua filha de 10 anos, no dia do julgamento do réu – e a história passa a girar sobre a condenação ou inocência dele.
Casos como esses dificultam qualquer julgamento que se faça. De um lado, se quisermos ser civilizados, devemos abandonar tais atos de barbárie e confiar na Justiça, por outro, nem sempre é possível conter a própria ira, sobretudo quando a Justiça peca – vai saber qual sentimento pode guiar um pai de uma filha abusada. De qualquer forma, acho que nenhum dos casos justifica atos frios de tortura, muito menos assassinatos em série, cometidos por um psicopata.
Os Crimes de Snowtown retrata bem esse episódio marcante na Austrália. Soube dosar o drama psicológico e o suspense, sem precisar apelar para imagens fortes e gratuitas de violência. Em vez de sangue, o filme se preocupou mais em mostrar a construção psicológica dos envolvidos e o que isso resultou. Até mesmo para os espectadores de estômago fraco, o filme não choca muito, apesar de ter uma ou outra cena impactante.
Minha Nota: 7,5
IMDB: 6,6
ePipoca: –
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