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Top 10 – SETEMBRO


3 de setembro. Há exatos 73 anos nascia Eduardo Galeano, um dos maiores latino-americanos da nossa História.


Em comemoração ao seu aniversário, o Top 10 de Setembro é dedicado a ele. E, por consequência, à América Latina.

Continente esse que “nasce” fadado à pobreza, por conta de suas riquezas. Seus metais e bens naturais a tornou vítima de séculos de roubo, expropriação e estupro cultural. Sua independência não a fez independente, passando apenas de uma mão para outra: os termos “colono” e “colônia” foram substituídos por “credores” e “devedores”. Ou seja, a América Latina “nasce” de um roubo e herda, de sua independência, uma dívida externa que a mantém dependente.

Passam-se décadas e o continente é assolado por golpes militares. Passam-se anos e é devastado pelas políticas neoliberalistas de seus governos. Chega o novo século e, com ele, a promessa de tempos melhores.

E cá estamos nós. Latinoamericanos! Vivenciando um momento único da história do nosso continente, que parece produzir um momento único a cada década. Certamente estamos em um momento melhor do que antes, mais promissor e esperançoso, mas ainda longe do que merecemos.

América Latina: decifra-te ou te devoram.

E não há quem a decifre melhor do que Eduardo Galeano. Ler suas obras e ouvir seus depoimentos nos permite compreender melhor quem somos, de onde viemos, para onde vamos e por que ainda vale à pena sonhar.

Que hoje seja só mais um, de mais alguns aniversários que esse uruguayo comemore.

Assim, o Top 10 de Setembro homenageia ele: Eduardo Galeano. E ela: América Latina.
PS – Post especialmente dedicado a Iury, Soli, a los hermanos que visitán a esse sitio, e a todos os que se sintam contemplados.




Guantanamera (Guantanamera) – Cuba (1995)
Direção: Tomás Gutiérrez Alea, Juan Carlos Tabío

Contra Cuba se aplica una lupa inmensa que magnifica todo lo que allí ocurre cada vez que conviene a los intereses enemigos, llamando la atención sobre lo que pasa en la revolución, mientras la lupa se distrae e no alcanza ver otras cosas importantes y que los medios de comunicación no hacen por informar.*







Buena Vista Social Club (Buena Vista Social Club) – Alemanha (1999)
Direção: Wim Wenders
Em realidade scribo cuando me pica la mano. Y quiero contar porqué. Esto se lo escuché una vez a un negro tamborero de Santiago de Cuba, hace muchos años. Eran como las tres de la mañana y llevaba tocando muchas horas, entonces le pregunté cómo lo hacía. Al tambor le arrancaba voces, llantos, risas, era impresionante, el tipo era un mago. Él me respondió: Yo toco cuando me pica la mano. Me pasa lo mismo, escribo cuando me pica la mano, no obedezco ninguna orden, ni las de afuera ni las de adentro. No escribo por cumplir, sino cuando me pica la mano.



Amores Brutos (Amores perros) – México (2000)
Direção: Alejandro González Iñárritu
Ainda que não possamos adivinhar o futuro, sim, temos ao menos o direito de imaginar como queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos; mas a imensa maioria da humanidade não tem mais do que o direito de ver, ouvir e calar. Que tal se começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal se delirarmos, um pouquinho? Vamos a fixar os olhos mais além da infâmia, para adivinhar outro mundo possível:

– O ar das ruas limpo de todo o veneno que não venha dos medos e das paixões humanas;
– Os carros sendo esmagados pelos cães…
Cidade de Deus (idem) – Brasil (2002)

Direção: Fernando Meirelles

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.

Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:

Que não são, embora sejam
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

A revolução não será televisionada (The revolution will not be televised) – Irlanda (2003)
Direção: Kim Bartley, Donnacha O´Briain

É um escândalo no mundo de hoje o monopólio da mídia e a maneira que ela manipula a opinião pública mundial. Isso se nota ao vermos o que ela diz e o que ela se omite em dizer.








Diários de motocicleta (Diarios de motocicleta) – Argentina (2004)
Direção: Walter Salles
Mira, en una tierra como Latinoamérica que está gravemente enferma de impotencia, o sea, donde em nombre del realismo se predica siempre la resignación, y esperar y esperar, y la esperanza se cansa de esperar, el Che es un impaciente, um hombre de esperanza y por eso es un profeta, una especie de Issaías de América Latina, un anunciador de otros tiempos. Tal vez habría que decir que nosotros también tendremos la paciencia para esperar al Che, el regreso del Che. Claro, él resucita en cada uno que cree em lo que él creyó, y resucita em los grandes movimientos populares de liberación en estas tierras que no fueron condenadas por ningún Dios a la desgracia que soportan.
O banheiro do papa (El baño del Papa) – Uruguai/Brasil (2007)
Direção: César Charlone, Enrique Fernández

A rainha Isabel fez-se madrinha da Santa Inquisição. A façanha do descobrimento da América não podia explicar-se sem a tradição militar de guerra de cruzadas que imperava na Castela medieval, e a Igreja não se fez de rogada para dar caráter sagrado à conquista de terras incógnitas do outro lado do mar. O papa Alexandre VI, que era espanhol, converteu a rainha Isabel em dona e senhora do Novo Mundo. A expansão do reino de Castela ampliava o reino de Deus sobre a Terra.

Che (Che: part one) – Estados Unidos (2008)
Direção: Steven Soderbergh

“El nacedor”

¿Por qué será que el Che tiene esta peligrosa costumbre de seguir naciendo? Cuanto más lo insultan, lo manipulan, lo traicionan, más nace. 
Él es el más nacedor de todos.
¿No será porque el Che decía lo que pensaba, y hacía lo que decía?
¿No será porque eso sigue siendo tan extraordinario, e nun mundo donde las palabras y los hechos muy rara vez se encuentran, y cuando se encuentran no se saludan, porque no se reconocen?
A teta assustada (La teta asustada) – Peru (2009)
Direção: Claudia Llosa
Muitos políticos no mundo inteiro, não é algo que passa somente em nosso país, exploram um tipo de histeria coletiva a respeito do tema da insegurança. Te ensinam a ver o próximo como uma ameaça e te proíbem de vê-lo como uma promessa, ou seja, o próximo, esse senhor, essa senhora que anda por aí, pode roubar-te, sequestrar-te, enganar-te, mentir para você, raramente oferecer-te algo que valha a pena receber. Creio que essa forma parte de uma ditadura universal do medo. Fomos treinados para ter medo de tudo e de todos e este é o álibi que necessita a estrutura militar do mundo. Este é um mundo que destina metade de seus recursos à arte de matar o próximo. Os gastos militares, que são o nome artístico dos gastos criminais, necessitam de um álibi. As armas necessitam da guerra, como os abrigos necessitam do inverno.
O medo ameaça:
Se você ama, terá Aids.
Se fuma, terá câncer.
Se respira, terá contaminação.
Se bebe, terá acidentes.
Se come, terá colesterol.
Se fala, terá desemprego.
Se caminha, terá violência.
Se pensa, terá angústia.
Se duvida, terá loucura.
Se sente, terá solidão.
Ao sul da Fronteira (South of the border) – Estados Unidos (2009)
Direção: Oliver Stone
Acho que nessa nossa região estamos vivendo um período interessante, lindo, muito criativo, muito fértil. Difícil de entender, às vezes, principalmente quando se olha de fora e de cima. As coisas que se entendem de verdade, as coisas que podemos entender com a razão e sentir com o coração, são as coisas que a gente é capaz de olhar de dentro e de baixo. Se a gente olhar de cima, com a típica arrogância dos nossos professores de democracia dos Estados Unidos ou da Europa; e se além de olhar de cima, a gente olhar de fora, não entende nada. E não entende nada por uma razão, por um motivo muito importante: a nossa é a região do mundo que, provavelmente, é a mais diversa de todas. É a pátria das diversidades humanas.



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*Todos os textos são de autoria de Eduardo Galeano.

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