Top 10 – JULHO
A metalinguagem é recorrente no cinema. Ela, por si só, já é uma forma de homenagear a sétima arte. É um jeitinho que o cineasta tem de compartilhar suas referências e apresentar suas próprias experiências com o ofício. Os grandes diretores sempre arranjam um jeito de mostrar o filme dentro do filme, seja em uma cena, uma fala ou dedicando toda a sua obra ao próprio cinema.
Assim, o Top 10 de Julho é dedicado ao cinema. Aos filmes que falam de filmes, que falam de filmes…
Cantando na chuva (Singin´in the rain) – Estados Unidos (1952)
Direção: Stanley Donen, Gene Kelly
O som no cinema: a revolução. E para brincar com essa fase especial da história cinematográfica – a passagem dos filmes mudos para sonoros – nada melhor do que um musical. Aliás, “o” musical. Ironicamente, muitos dos atuais espectadores acabam sendo levados para esse filme a partir do som, de sua música, de “cantando na chuva”, de Gene Kelly pendurado no poste, segurando o guarda-chuva fechado e tomando um delicioso banho ao ar livre. É o adeus ao cinema mudo e as boas-vindas a mais um sentido da sétima arte.
Oito e meio (8 1/2) – Itália (1963)
Direção: Frederico Fellini
Fellini por Fellini. A auto-representação de um diretor em crise consigo mesmo. O autor e o seu cinema particular. A mão de Fellini, o corpo de Marcello Mastroianni, as lembranças e fantasias de um personagem. O filme é um presente dado por Fellini a si mesmo. E Fellini é um presente que o cinema nos deu.
O Desprezo (Le mépris) – França (1963)
Direção: Jean-Luc Godard
Mil e uma referências nesse filme. Quando as identifica, a obra fica ainda mais rica e interessante. Mas, além disso, é uma verdadeira homenagem de Godard à literatura, a cineastas, aos clássicos gregos, aos aficcionados por Brigitte Bardot e, claro, ao cinema. Um roteirista, um diretor, um produtor e uma missão: realizar um épico.
A noite americana (La nuit américaine) – França (1973)
Direção: François Truffaut
Um dos melhores filmes de Truffaut. Ou o pior filme de Truffaut. A noite americanaé um capítulo à parte na história do cinema. Uma ponta de um iceberg. Foi o filme que acirrou ainda mais a briga entre os ex-amigos Truffaut e Godard e tornou a reconciliação impossível. Em carta, Godard chamou o colega de mentiroso. Truffaut respondeu: “invejoso e ciumento”. O mais importante é que, no meio desse fogo cruzado, ficou um filme que homenageia o cinema, revela o seu set de gravações e os profissionais que nele trabalham. A polêmica só amplia a áurea da obra.
Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso) – Itália (1988)
Direção: Giuseppe Tornatore
Dizer que esse filme é um presente para o cinema é muito pouco. Ele é um tesouro da humanidade. A obra possui uma sensibilidade rara de se alcançar. É a beleza saltando aos olhos. É a penetração na camada mais profunda da alma humana. São nossas vidas passando por um negativo. São as lágrimas escorrendo pelo sorriso. É Ennio Moriconne acariciando os ouvidos. Cinema Paradiso é uma prova de amor ao cinema. E os beijos são a síntese desse mais puro sentimento.
Boogie Nights – prazer sem limites (Boogie Nights) – Estados Unidos (1997)
Direção: Paul Thomas Anderson
Uma incursão aos bastidores da indústria pornô. Loiras siliconadas, atores “bem dotados”, drogas, dinheiro, vícios, virtudes e vaidade. Luz, câmera e muita ação. Parece banal, mas não é. O segredo: Paul Thomas Anderson! E seus atores. E um jeito de fazer cinema que só ele sabe fazer. Filme pra rir, se espantar, se excitar e se apaixonar ainda mais pelo cinema.
Os Picaretas (Bowfinger) – Estados Unidos (1999)
Direção: Frank Oz
Uma comédia, com a sutileza e graça de Frank Oz, e uma atuação divertidíssima de Eddie Murphy. Os Picaretas é a forma hollywoodiana de rir da própria Hollywood. É o bom humor para criticar a pendenga dos produtores decadentes, o glamour das celebridades, os roteiros esdrúxulos, as macacadas dos efeitos especiais nas cenas de perseguição e, por que não dizer, a idiotização do próprio público, que consome qualquer porcaria que se promova no mercado. É pra ver e rir!
Adaptação (Adaptation) – Estados Unidos (2002)
Direção: Spike Jonze
Um dos que assinam o roteiro é Charlie Kaufman. Charlie Kaufman também é o nome do personagem interpretado por Nicolas Cage. Nicolas Cage também tem dois personagens no filme. Confuso? Muito. Esse é um filme extremamente desequilibrado, insano. Como se fosse uma representação da mente de um roteirista angustiado. Mas, no final das contas, a ironia ao “cinema fácil” prevalece. Todo aspirante a cineasta deveria ver essa obra, nem que fosse para chegar a uma conclusão tão simples, quanto correta: todo filme, para dar certo, tem que ter alguma cena de violência e de sexo. Duvida? Então, assista.
Dirigindo no escuro (Hollywood Ending) – Estados Unidos (2002)
Direção: Woody Allen
O cinema e suas ironias. Um diretor que, inesperadamente, fica cego. Abre o plano, corta pra cá, o que foi isso? Seguem as filmagens, vira pro lado, muda pra lá, o quê que tá acontecendo aqui? O resultado: um filme que talvez Hollywood não goste, mas que os franceses acharão cult. Olharão aquela cena em que os atores estão fora do plano e pensarão: esse diretor é um gênio. Não, ele só é cego. Woody Allen em grande forma, mais uma vez brincando com o cinema.
Saneamento Básico – o filme (idem) – Brasil (2007)
Direção: Jorge Furtado
O cinema brasileiro nos dias atuais. O modelo de financiamento, o argumento, o roteiro, as filmagens, a edição e a exibição. A “ode ao cinema”, versão brasileira. Filmado em um lugar lindo (Monte Belo! Pertinho de Bento Gonçalves!), com uma trilha sonora italianescamente deliciosa (Piangi con me!), atores de primeira (Lázaro e Wagner!) e personagens adoráveis (Oi, Silene Seagal, aonde você vai tão bo-nita?). Afinal de contas, cinema é tão importante quanto saneamento básico.