69 – O divo (Il divo) – Itália (2008)
Direção: Paolo Sorrentino
Calmo e impenetrável, Giulio Andreotti, líder do Partido da Democracia Cristã, representa o poder na Itália há quatro décadas. Com quase 70 anos de idade, Andreotti se encaminha ao sétimo mandato consecutivo como Primeiro Ministro. Sem temer nada nem ninguém, gerencia o país em completa simbiose com o poder imutável dos velhos governantes. Desta forma, batalhas eleitorais, atentados terroristas ou acusações comprometedoras vêm e vão sem atingi-lo. Até que o contra-poder mais forte da Itália, a Máfia, decide declarar guerra a ele.
Se peneirasse esse filme, quatro elementos se destacariam facilmente: Paolo Sorrentino, Toni Servillo, Giulio Andreotti e a trilha sonora.
Começando pela trilha: um prazer à parte. Clássico, pop e moderno interagindo brilhantemente com cada cena. Às vezes, parecia até um videoclipe. Em outros momentos, o próprio personagem sutilmente (e brilhantemente) dialogava com a música. Até samba tem.
Guilio Andreotti: uma espécie de Berlusconi atual. Um ACM, um Sarney, só que muito mais poderoso e um pouco mais mafioso. Um dos donos da Itália. Uma figura interessantíssima, que sambava com a Máfia, com a Igreja, com o Parlamento, com o Judiciário. Uma figura, que revela uma rede de poder, corrupção e crimes assustadores, sobretudo se considerar que a Itália deveria ser um país desenvolvido politicamente. Andreotti morreu alguns anos depois do lançamento do filme. Certamente viu a sua vida sendo representada no cinema. Provavelmente deve ter tido uma crise existencial e desejado matar os realizadores do filme.
Toni Servillo: simplesmente brilhante no papel.
Paolo Sorrentino: com apenas um filme (As Consequências doAmor) se tornou um dos meus diretores preferidos. Agora, definitivamente ele o é. Sorrentino trabalha cada cena com uma dedicação impressionante. Como um amante que, casado há alguns anos, ainda busca apaixonar seu amor a cada dia. Um dia para completar o todo. Uma cena para fazer valer o filme inteiro. Cada sequencia é especial para Sorrentino. Ele se dedica e o resultado é notado facilmente. Na posição de sua câmera, no caminhar dela, no seu plano perfeito, na sua mise-em-scene. Cada sequencia – e não é exagero – é pensado delicadamente, extraindo dela todo o potencial que ela tem.
Il Divo é um tipo de filme que tem tanta coisa boa agregada, que dá gosto de ver.
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