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34 – A Separação (Jodaeiye Nader az Simin) – Irã (2011)

Direção: Asghar Farhadi
Casal enfrenta dilema na hora de escolher onde viver. A esposa quer se mudar para o exterior para que a filha tenha mais oportunidades e o marido deseja fica no país e cuidar do pai que tem Alzheimer. O conflito acaba virando divórcio e a mulher decide sair do país com a filha do casal.
Como diria Hermes & Renato: merdas acontecem!
Acontecem o tempo todo. São pequenos detalhes, mas que podem gerar impactos desastrosos e irreversíveis. O diretor Iñárritu bem sabe disso e o retrata muito bem em suas obras. São coisas que não deveriam acontecer, mas acontecem. E posteriormente vem o julgamento. Acidente? Negligência? De quem é a culpa? Cavando bem, dá pra responsabilizar alguém.
Essa sede de justiça é natural na nossa sociedade. De um lado vivemos em um suposto Estado de Direito, onde a responsabilidade perante a lei é quase sagrada. De outro, temos a espetacularização midiática que transforma qualquer um em “bom” ou “mal”, “culpado” ou “inocente”. Sentenciar considerando esses opostos é fácil. Difícil é julgar a subjetividade que está entre eles.
Julgamento! Essa parece ser a palavra-chave dos filmes do diretor Ashgar Farhadi. Em Procurando Elly o mote da história é quando uma merda acontece. Daí, o sentimento aparentemente inevitável de buscar um responsável por aquilo. É quando os personagens brigam entre si, revelam pequenas mentiras ou omissão de verdade que acaba gerando a desconfiança, um vai e vem para se chegar a um culpado. Mas realmente é preciso ser impiedoso? Ou é tão difícil assim admitir que merdas acontecem e pronto!? Isso Farhadi deixa a critério dos espectadores e de seus próprios personagens.
Já em A Separação a fórmula usada é muito semelhante, mas o julgamento está muito mais caracterizado. O filme começa em um tribunal. E vira e mexe, lá estão os personagens novamente na frente de um juiz. Durante o começo, meio e fim, esse espaço está presente. Afinal de contas, estamos julgando o tempo inteiro. Parece um prazer instintivo esse de julgar, de ver quem está com a razão, de dar nosso pitaco. É quase impossível ser tão distante e imparcial. Na nossa sociedade, o ato de julgar é um poder cada vez mais estimulado. Vai desde o reality show que assistimos e temos o poder de votar em quem queremos eliminar e quem merece ficar, até um processo criminal, onde sequer acompanhamos o julgamento, mas já sentenciamos: “sim, foi ele que matou a filha; é político? Então é claro que roubou; bandido bom é bandido morto”.
Vamos aos extremos. E os filmes de Ashgar Farhadi nos mostram que nem tudo é tão maniqueísta assim. De fora, é cômodo dizer “ele é o culpado”. E talvez até seja. Mas quando se compreende a complexidade que há por dentro, tudo fica relativizado. Mas a Justiça e nossa sede de justiça (ou seria de vingança?) não quer saber dos pormenores. Como o próprio personagem do filme diz, ao justificar sua mentira diante do juiz, “a lei não pondera”. Ela não quer analisar a subjetividade humana nas suas ações. Ela não quer saber se merdas acontecem ou não. Ela quer sentenciar de forma objetiva e achar um culpado. Porque se houve crime, alguém tem que pagar.
Isso me lembrou uma foto que vi recentemente circulando nas redes sociais. É uma fotografia tirada durante o massacre do Carandiru. Na foto está uma pilha de presos mortos, sobre um mar de sangue. Na legenda, algo que mais ou menos dizia “Essa foto mostra a ineficiência da polícia. Caberia pelo menos mais 15 vagabundos naquele corredor ali”. É uma associação aparentemente natural: bandido – vagabundo – merece morrer. Assim, na lata, sem piedade. Um julgamento curto e grosso, sem presunção de inocência, sem direito à vida, sem análise processual. Sem se quer parar para pensar em quantos ali estavam injustamente presos, aguardando processo ou sentenciados por não ter condições de pagar um bom advogado; quantos ali fizeram uma merda igual ou pior às que estamos sujeitos a fazer?
Porque, sim, estamos sujeitos a fazer merdas. Daquelas que a gente se arrepende e torce para que tudo seja apenas um pesadelo e no abrir dos olhos nada disso tenha acontecido.
A Separação é iraniano, mas ao mesmo tempo universal. As coisas que acontecem nos filmes de Asghar podem acontecer com qualquer um, seja no Irã ou no Brasil. Porque o que está em jogo são os aspectos humanos, os atos, consequências, erros, acertos, mentiras, medos, equívocos, arrependimentos, negligências e decisões comuns a todos os seres humanos. O julgamento, portanto, parece ser inevitável. Mas difícil é conseguir achar um vilão cruel ou um inocente perfeito.
Palmas para Asghar, por sua sensibilidade em conseguir desenvolver uma história com tamanha naturalidade. E por fazer universal algo que é apenas um recorte.

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