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CRÍTICA 01 – Django Livre (Django Unchained) – Estados Unidos (2012)

Obra e autor, para quem vive a história, são indissociáveis. Ao menos que o indivíduo seja um desavisado e caia de pára-quedas em um livro sem se dar conta de quem o escreveu, ou mesmo qual o passado desse escritor, é inevitável que o histórico do autor agregue valor à sua própria obra.
Recentemente, o Washington Post realizou uma experiência interessante. O jornal colocou uma violinista para tocar músicas clássicas em uma estação de metrô, durante 45 minutos. Apenas 6 pessoas pararam para ouvir e o artista conseguiu arrecadar 32 dólares de “couvert”. O que nenhum dos transeuntes sabia é que esse indivíduo era um dos maiores músicos da atualidade, tocando com seu violino que vale mais de 3 milhões de dólares, e que dois dias antes ele havia lotado um teatro em Boston, cujo valor do ingresso foi de 100 dólares.
É ingenuidade, portanto, desassociar autor e obra. Aí que entra Tarantino. É praticamente impossível analisar qualquer novo filme de forma crua, recortada. Inevitavelmente são levadas em consideração todas as suas grandes obras do passado, além de se influenciar pela própria áurea que o diretor possui. Essas variáveis acabam criando uma expectativa sobre o seu próximo lançamento, difícil de ser administrada.


Por isso, quem se empolgava com algumas técnicas recorrentes na filmografia de Tarantino, pode ter se decepcionado com Django Livre. Nele, não tem Brad Pitt olhando para a câmera e dizendo “essa é minha obra-prima” (Bastardos Inglórios), não tem Uma Thurman (Pulp Fiction) desenhando um quadrado na tela, e, sobretudo, não tem um quebra-cabeça narrativo. Pelo contrário, o filme possui uma linearidade convencional, o que não é o maior forte do diretor.
A narrativa é extremamente clássica, cuja estrutura é facilmente encontrada nos famosos manuais de roteiro, ou em qualquer livro de Doc Comparato. As ações e acontecimentos são previsíveis e clichês. E é justamente aí que Tarantino faz a diferença. O que poderia parecer um déficit de criatividade do diretor, revela uma própria originalidade. Considerando todo o histórico de Tarantino e de tudo que ele foi capaz de fazer, é fácil concluir que Django Livreé clichê do início ao fim por pura opção estética do diretor, que resolveu não sobrepor suas “modernidades” ao clássico, fazendo da narrativa padrão a sua própria prisão. E foi dentro desse limite que Tarantino buscou desenvolver o seu diferencial.



Se as soluções fáceis no roteiro, modéstia do enredo e a pouca utilização de técnicas mirabolantes não são recorrentes na filmografia de Tarantino – talvez não muito animadora para parte de seus fãs – por outro lado ainda é possível perceber elementos tarantinescos em diversos momentos.
Quem gostava de Jules recitando sua passagem bíblica antes de cometer sua próxima execução (Pulp Fiction), ou da dança sensual de Arlete (À prova de morte), certamente vai ficar empolgado com as esquetes contidas em Django, sobretudo a da Ku-Klux-Klan, que tira as maiores gargalhadas do filme. Isso sem falar nas já consagradas seqüências de tiroteio, com muita plasticidade e sangue. As de Django ficam atrás de Kill Bill e de Cães de Aluguel, mas mantém o alto nível tarantinesco. As diversas referências também são preservadas.


O filme, portanto, preserva alguns elementos tradicionais de Tarantino, mas que não necessariamente apresenta uma evolução ou superação. No máximo, mantém o nível. A grande novidade, talvez, seja mesmo o roteiro padrão e clichê – provavelmente uma opção estética do diretor. A textura das imagens, os planos, a trilha sonora e os movimentos de câmera – incluindo os zooms repentinos e de supetão, no melhor estilo de Sergio Leone – preserva a estética dos spaghetti western, mas pode ser indigesto aos espectadores de Tarantino, acostumados com algo um pouco mais complexo.
O conteúdo, no entanto, caiu bem no estilo do diretor, ousado e provocador. Ele que já tinha “mudado os rumos da história”, ao assassinar Hitler em Bastardos Inglórios, novamente criou um personagem ficcional a partir de um contexto histórico real. Com isso, esfregou na cara da sociedade preconceitos da época que hoje alguns deles são capazes de provocar risos, como a indignação de Stephen (Samuel L. Jackson) ao saber que Django dormiria na casa grande. Aliás, a coragem de pular o moralismo puritano e criar personagens negros dotados de preconceito e racismo é algo que poucos fazem, dentre eles Spike Lee que, paradoxalmente, acabou se posicionando contra a iniciativa de Tarantino, de pegar um acontecimento histórico que matou e explorou milhões de negros, para fazer o seu bang-bang.


Django, portanto, tem suas oscilações, mas fruto da inevitável fusão entre obra e autor. O desafio de um grande diretor como Tarantino, que produziu grandes obras ainda jovem, é de se superar a cada filme, pois todas as expectativas estarão voltadas nele. Nisso, creio que Djangonão foi capaz de conseguir, já que Bastardos Inglórios, seu penúltimo filme, foi de um nível bastante elevado. Se Django não tivesse sido feito por Tarantino, poderia ser considerado um filme excelente. Mas, como é sabido que foi ele que fez, a expectativa é que Django fosse melhor.
Mas, isso talvez nem seja importante para Tarantino, que, literalmente, está se explodindo.