07 – A princesa Mononoke (Mononoke-hime) – Japão (1997)
Direção: Hayao Miyazaki
Guerreiro em busca de cura para maldição entra no meio de guerra entre os habitantes da floresta e mineradores.
Mais um belo filme de animação japonês, não recomendado para menores.
Princesa Mononoke possui um conteúdo muito denso, que alcança diversos pontos sociológicos e antropológicos que desencadeiam conflitos recorrentes envolvendo seres humanos, tribos e natureza. Tem uma ótica um pouco pessimista, pois encara as guerras, ambição e destruição como algo real e de difícil solução.
Tudo nessa vida tem limite e até o deus amável e protetor pode se desestabilizar e lançar sua fúria sobre a Terra. A dificuldade, portanto, é como manter uma harmonia que equilibre os interesses de todos e interrompa um ciclo de vingança alimentado pelo ódio e rancor.
Daí, já dá pra tirar o quanto Princesa Mononokeé complexo e capaz de produzir pertinentes metáforas.
Além de tudo isso, algo me chamou a atenção: o quanto elementos da cultura japonesa (manifestadas no filme) se aproxima de elementos das religiões afrodescendentes, sobretudo do candomblé. Eis os exemplos que consegui identificar [atenção, possíveis spoiler]:
1- Na tribo do príncipe Ashitaka, a anciã, respeitada por seu conhecimento ancestral, possui o dom de se conectar com forças espirituais e receber algumas informações sobre o futuro. Em uma cena, ela faz um jogo, usando pedras e alguns outros elementos da natureza, como folhas e ossos de animais. Todas essas características são extremamente semelhantes aos dos pais-de-santo e seus tradicionais jogos de búzios.
2- Na floresta, Ashitaka é recebido por espíritos do bem, brincalhões e amigáveis. Algo semelhante aos Erês do candomblé (espíritos infantis), a exemplo de Flechinha, um Erê de Oxóssi, caçador das florestas.
3- O príncipe Ashitaka, afetado por uma chaga mortal visível em seu corpo, recebe a missão de buscar o equilíbrio entre as tribos em conflito, para sanar as mortes dos bichos e humanos. No candomblé, Omolu também é conhecido como o Orixá ligado à morte e às doenças, além de possuir chagas em seu corpo. Tanto Ashitaka quanto Omolu se cobrem para esconder suas feridas com uma vestimenta muito parecida e ambos portam ferramentas em suas mãos.
4- No candomblé há uma lenda sobre Ìbejì, erês gêmeos crescidos na floresta, cujo animal associado a eles é o macaco colobo (colobus polykomos), que em yorubá é chamado de Edun Oròòkun. Esses macacos, de cor preta com detalhes brancos, habitam as florestas e possuem o dom de escutar os deuses. No filme, também há uma tribo de macacos totalmente pretos, que conversam com a loba (que possui status de deusa) e também vão em busca do grande deus da floresta.
5- Por fim, o mito do deus da floresta. No filme há o espírito maior, guardião da floresta, cujo arquétipo é de um espírito que se manifesta mais à noite, sendo zelosos e controlados, mas perigosos quando provocados. No candomblé, quem tem um arquétipo semelhante é Oxóssi, protetor das florestas, que age mais à noite e é extremamente cuidadoso, mas capaz de lançar sua ira quando necessário.
Enfim, pode ser apenas uma viagem minha, identificar traços semelhantes de duas culturas distintas, mas acho que isso é no mínimo curioso.
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