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332 – Tocaia no asfalto (idem) – Brasil (1962)

Direção: Roberto Pires
Roteiro: Roberto Pires; Rex Schindler
Tocaia no asfalto é um dos pontos máximos do ciclo baiano de cinema no começo dos anos 1960. A história de um jovem político idealista de Salvador é narrada em paralelo à de um matador que chega do interior com a missão de eliminá-lo. O coronelismo, a violência e a política da época são temas centrais desse thriller baiano.

Trechos do artigo Fragmentos de uma cidade, de Maria do Socorro Carvalho:
Para o público que o assistirá pela primeira vez, talvez o que mais chame atenção sejam as imagens de Salvador do momento de sua realização, entre janeiro e setembro de 1962, sobretudo para seus habitantes contemporâneos, que reconhecerão espaços e lugares de uma cidade que, em grande parte, não mais existe nas experiências de sua vida cotidiana.
Nessa perspectiva, duas questões guiarão a presente leitura de Tocaia no Asfalto: o que um filme pode dizer de uma cidade? Ou ainda como uma cidade pode iluminar um filme?  A discussão aqui proposta sobre este terceiro longa-metragem do então jovem diretor baiano deve partir de seu contexto de produção, ou seja, como fruto do chamado Ciclo de Cinema Baiano (1958 – 1962), um surto cinematográfico surgido em uma cidade que experimentava um significativo processo de modernização, com destaque para o campo cultural.
Tocaia no Asfalto é uma história em torno de mortes encomendadas no centro urbano de Salvador.  Na cidade que se desenvolvia, aspirando à modernidade, a política encontra-se atrelada à velha cultura do coronelismo nordestino, que resolve suas diferenças e conflitos à bala, simplesmente mandando matar o oponente.
Apesar da denúncia da velha cultura coronelista e do prenúncio de mudanças políticas, Tocaia no Asfalto é um filme bastante pessimista quanto ao futuro. 
Com Tocaia no Asfalto, Roberto Pires parece ter realizado uma síntese das propostas de seus dois trabalhos anteriores, o thriller policial Redenção (1958), o primeiro filme de longa-metragem baiano, e A Grande Feira(1961), uma crônica urbana em torno de um episódio traumático da cidade, o fim da Feira de Água de Meninos.  Embora a preocupação com problemas sociais tenha sido a característica marcante do Ciclo baiano, Redenção – “um melodrama semi-policial”, segundo Glauber Rocha – estava afastado da concepção de cinema social, comprometido com a realidade do país. Naquele tempo de exaltação das “coisas da Bahia”, esta ausência foi vista com reservas pela crítica, mesmo que o sentimento geral fosse de orgulho por aquele que inaugurava a produção de filmes de ficção na Bahia.
Mas, para além do cinema de gênero, essa terceira experiência na direção de longa-metragem também acolheria a valorizada temática social, tratada como denúncia política, tanto das práticas viciadas então dominantes na Bahia como de sua injusta realidade, que mantinha os pobres sem opção de uma vida digna.
De modo geral, Tocaia no Asfalto foi bem recebido em Salvador e recusado no Sul do país.  Alguns críticos à época do lançamento, ainda em 1962, sobretudo em jornais do Rio de Janeiro, viram dois filmes diferentes (inclusive em qualidade) em sua narrativa. O crítico-cineasta Glauber Rocha, que participa da equipe de realização de Tocaia no Asfalto como coordenador de produção, observa essa duplicidade, afirmando que “o filme oscila entre a verdade social dos pistoleiros e prostitutas e claudica na caracterização psicológica dos políticos e grã-finos”.
Tocaia no Asfalto revela-se uma fonte de pesquisa histórica para possíveis estudos da sociedade e do cinema daquele período.  Mas, em especial, esse longa-metragem realizado quase artesanalmente por uma pequena equipe de amadores, que sonhava com uma produção industrial de cinema na Bahia, expressa uma visão poética da transformação urbana que resultou na cidade de Salvador que se conhece hoje, algo mais difícil de ser investigado para além das imagens recuperadas pelo filme.
Minha nota: 7,3
IMDB: 7,9
ePipoca: –
Sugestão: Redenção
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