327 – Manderlay (Manderlay) – Dinamarca (2005)
Direção: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
”Manderlay” é o segundo capítulo, seguido de ”Dogville”, de uma trilogia assinada por Lars von Trier focando a vida nos Estados Unidos. Dessa vez, a história fala da escravidão americana no sul do país, nos anos de 1930.
Vi esse filme após ter visto O nascimento de uma nação e a seqüência não poderia ter sido melhor.
Não só pela coincidência temporal e histórica, mas pela perspectiva de abordagem. Se no clássico de Griffith temos uma premissa racista, que enxerga a abolição da escravatura como um problema social, devido o comportamento e organização dos negros; no filme de Lars von Trier a perspectiva já é diferente. O diretor dinamarquês traz uma representação histórica, que de fato reconhece a dificuldade dos negros de se adaptarem à nova vida – a internalização de séculos de opressão e exlcusão pode gerar acomodação e violência entre os próprios negros.
No entanto, há um pequeno detalhe na interpretação dessa situação. Griffith diz: tá vendo, os negros são preguiçosos, violentos, não sabem produzir, não sabem se organizar, não trabalham direito – e portanto merecem pertencer a uma sub-classe social, submissa ao branco. Já, em Manderley o que se pode deduzir é: sim, os negros recém-libertos possuíam todas essas limitações e deficiências, mas isso não se dava por conta de sua origem, a cor de sua pele e, muito menos, por serem inferiores. Isso se dava porque passaram séculos sendo escravizados e privados de desenvolvimento científico, cultural, social, etc. E isso é o que justamente invalida qualquer discurso racista ou que defenda o escravismo.
A moral da história é: não dá pra passar séculos escravizando um povo e do dia pra noite libertá-los e deixar que eles se virem sozinhos.
Pois foi isso que os Estados Unidos fizeram e, claro, o Brasil também.
Pelo que eu saiba nenhum senhor de engenho foi preso. Pelo contrário, hoje os seus tataranetos são donos de latifúndios e belíssimas fazendas e não raro se elegem prefeitos em seus pequenos municípios e são bastante respeitados. Já os tataranetos dos escravos, não raro, são peões dessas mesmas fazendas, trabalhando muito e ganhando pouco, muitas vezes em condições análogas ao de escravos.
Vale lembrar que os negros libertos não foram devidamente indenizados, não tiveram acesso a moradia, não foram matriculados em escolas e universidades e nem foram capacitados para exercer profissões bem remuneradas.
Certamente isso justifica o fato de que 2/3 das favelas sejam ocupadas por negros; 72,6%de negros e pardos ocupam as camadas mais pobres da sociedade; antes da implementação das cotas, menos de 6% dos universitários (em federais) eram negros, e quanto maior o status do curso (Medicina, Direito, Engenharia), era ainda menor o número de negros cursando; e o desemprego e baixossalários afetarem mais os negros e pardos.
Mas, segundo Ali Kamel e Griffith, não somos racistas. São os negros que são burros, preguiçosos e incompetentes, por isso não conseguem progredir na vida, mesmo diante de uma sociedade tão justa e que oferece as mesmas oportunidades para todos, sem falar na herança escravista que foi rapidamente superada no mesmo dia em que foi assinada a abolição da escravatura. Após a canetada da Lei Áurea, deixamos de ser racistas e não somos até hoje. Ah, e se no Faustão, das 25 bailarinas apenas uma é negra, isso é mera coincidência. Talvez, culpa das próprias negras que não sabem mexer o corpo e sorrir ao mesmo tempo. Sem falar nas atrizes negras, que são péssimas, tão ruins que não merecem receber personagens nas novelas.
Já eu e Lars Von Trier temos uma outra perspectiva.
E sobre o filme… é muito bom. Já não tem a mesma áurea de originalidade que envolveu Dogville, mas possui o mesmo preciosismo dessa obra.
E que final!!!!
Minha nota: 8,7
IMDB: 7,3
ePipoca: 9,6
Sugestão: Faça a coisa certa
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