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195 – Bye Bye Brasil (Bye Bye Brasil) – Brasil (1979)


Direção: Cacá Diegues
Roteiro: Cacá Diegues; Leopoldo Serran
Salomé, Lorde Cigano e Andorinha são artistas ambulantes que cruzam o país com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço e sua esposa, Dasdô, com os quais a Caravana cruza a Amazônia até chegar a Brasília.
Alguns filmes valem mais que toneladas de livros de história. Bye Bye Brasil é um deles.

O filme do diretor Cacá Diegues retrata um período histórico brasileiro muito pouco representado no país, sobretudo no cinema. Um Brasil que vai além do sertão, do litoral e das grandes cidades, trazendo a esperança dos brasileiros pelo “país do futuro”.

Um Brasil em que presidentes, grandes empresários e multinacionais prometiam trazer o progresso à nação, com construção de cidades e estradas, além do crescimento da geração de empregos que mudariam a vida de todos.

O Brasil da Transamazônica, de Altamira e de Brasília. Das espinhas de peixe das antenas parabólicas. Das usinas no mar, do fliperama em Macau, das chances legais na capital, e da dona infeliz, com um tufão nos quadris.

Em Bye Bye Brasil, porém, é possível ver que muitas das promessas já não se cumpriam. A Transamazônica não trazia o tão falado progresso, simplesmente rasgava a Amazônia sem nenhum diálogo ou consentimento com os moradores da região (majoritariamente índios) e sem desenvolver regiões próximas, apenas concentrando em algumas cidades a urbanização. A cada emprego criado, também era gerado dezenas de desempregados, oriundos de outras regiões, atraídos pela propaganda de que ali nasceria o novo Brasil.

Também é vista, ainda que sutilmente, mas com críticas, a já construída Brasília. Outro paraíso prometido pelos “desenvolvimentistas”, que não conseguiam frear a vinda de uma legião não-urbana de nortistas e nordestinos, que se amontoavam nas cidades-satélites, na periferia da nova capital brasileira.

Hoje, a Transamazônica é um símbolo do abandono e do tal progresso que nunca veio. A maioria dos seus trechos não estão asfaltados e é mais procurada por aventureiros e amantes do rally, do que por veículos de transporte de carga. Além do mais, o rasgo floresta à dentro contribuiu para o aumento do desmatamento. As comunidades próximas, em sua maioria, são pobres e carentes de estrutura e serviços públicos.

Altamira, a princesinha dos olhos da “nova Amazônia”, hoje vive um período controverso, por conta de três aspectos. O primeiro é o social, cujo problema é crônico, agravado com o abandono da pavimentação da Transamazônica no final dos anos 1990 – apesar de nos últimos dois anos novas obras terem sido reiniciadas na região. Até 2010 o desemprego era de quase 20% e a infra-estrutura péssima, apesar do alto nível de alfabetismo.

O segundo problema são os constantes conflitos na região: “garimpeiros que não gostam de índios, que brigam com agricultores, que têm problemas com ribeirinhos, que são invisíveis para quem vive na cidade. De vez em quando há uma troca de parceiros nessa dança, mas o resultado costuma ser confusão”.

E a última questão é a construção da Usina de Belo Monte na região. Se, por um lado, há uma necessidade latente de explorar o potencial energético brasileiro para atender o consumo da população, que é cada vez maior; por outro, temos o velho discurso desenvolvimentista, com promessas e mais promessas de progresso para a região, que, sabe-se lá, vão ou não ser concretizadas.

Já Brasília, deve causar dor de cabeça para Niemeyer. Há bandidos para todos os lados. No centro, estão de colarinho branco. Na periferia, estão espalhados nas cidades-satélites, fruto de uma ocupação desordenada, desigual e fascista. Um verdadeiro apartheid urbano, nessa que deveria ser a cidade modelo do desenvolvimento para o país.

Bye Bye Brasil, portanto, mostra um Brasil pouco conhecido e que enche os olhos do espectador, por permitir, em 2012, uma comparação sobre o que nos prometeram, o que poderíamos ser e no que nos transformamos. Isso sem falar na ótima direção de Cacá Diegues e dos atores com interpretações notáveis, onde até o filho do Fábio se sai bem.

Bye Bye Brasil é um serviço prestado à nação!


Minha nota: 8,6
IMDB:  9,3
ePipoca: 7,3
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