164 – Um filme falado (Um filme falado) – Portugal (2003)
Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira
Rosa Maria, uma jovem professora de História, parte com a sua filha Maria Joana num cruzeiro que atravessa o Mediterrâneo e se dirige a Bombaim, na Índia, onde se reunirão com o seu marido. A viagem é um verdadeiro passeio pelas civilizações ocidentais.
Sem dúvida que os ataques às torres gêmeas mexeram com muita gente. Provavelmente o “11 de Setembro” (dos EUA e não o do Chile) vai ser um marco da nossa história, estudado por crianças daqui a 100, 200, 300 anos – se é que ainda teremos planeta Terra até lá.
O interessante, no entanto, é o desdobramento desse acontecimento no cinema. Se alguém pedisse para fazer um filme sobre esse fatídico dia, provavelmente a última coisa a se pensar seria a história de uma mãe e filha portuguesas à bordo de um cruzeiro pela Europa e norte da África.
Mas, essa foi a escolha de Manoel de Oliveira.
Um filme falado basicamente se divide em duas partes. A primeira é um verdadeiro passeio pelas civilizações ocidentais, incluindo as clássicas Grécia, Itália e Egito. É uma espécie de aula de história, literalmente falada, e ilustrada por imagens contemporâneas que preservam o antigo, como as pirâmides egípcias, oferecendo uma belíssima fotografia. Certamente, os professores de história da 8ª série iriam adorar passar esse filme em sua aula, enquanto corrigem as provas da semana passada. Os alunos é que talvez não se concentrassem tanto, já que o filme exige uma calma e quietude incompatível com os hormônios juvenis. Provavelmente, só um ou dois prestariam atenção no filme, enquanto os demais dormiriam, brincariam de ABC, ou sairiam da sala para namorar, jogar totó ou bater um baba.
Mas, eis que essa história contada – interessante, porém monótona – é interrompida por uma espécie de “segunda parte” do filme, totalmente distinta da primeira. Nesse momento, não há mais desembarques, nem explicações sobre as cidades. A história se concentra no interior do navio, em uma roda de conversas envolvendo o capitão (John Malkovich !!!), três mulheres e, em seguida, a protagonista e sua filha. Todas falando em seu idioma: português, grego, francês, inglês e italiano.
Os cinco personagens começam a refletir criticamente sobre a evolução das civilizações, com suas guerras, tradições, erros, acertos, construções e destruições. Tudo isso levemente misturado com questões pessoais, particulares. É um momento em que toda a história vista na primeira parte passa a ser julgada e o que se conclui é que as divergências entre civilizações sempre tenderam mais para a destruição e o desafeto, do que para a construção de uma humanidade global, e não fragmentada em diversos cacos desarmônicos. O filme mostra que é possível se entender, mesmo se falando em uma outra língua. No entanto, a guerra consegue se impor a isso e destruir tudo o que foi construído baseado na fraternidade e respeito à diferença.
E onde entra o 11 de setembro? Na última cena.
…
Uma curiosidade: há algumas referências feitas ao Brasil.
Em uma cena, o capitão conversa com a personagem:
– … e nem sequer terá de falar inglês, porque eu passei uns anos no Brasil, por isso, mesmo não falando, eu entendo o português muito bem.
Em uma seqüencia mais à frente, o mesmo capitão reforça que já morou no Brasil por alguns anos.
Por fim, um diálogo:
– Os portugueses viajaram por todo mundo. Os gregos também viajaram por todo o Mediterrâneo, e muito para o Leste. Até à Índia. Eu penso que é curioso que o português, como língua, comparado, por exemplo, com o grego, estabeleceu-se no Brasil, na África, em algumas partes da Ásia, Oceania e até na América do Norte. Enquanto isso, a língua grega ficou restrita à Grécia.
Minha Nota: 7,3
IMDB: 6,8
ePipoca: 3,3
Sugestão: A Eternidade e um Dia
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