62 – O Beijo no Asfalto (idem) – Brasil (1981)
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Doc Comparato; Nelson Rodrigues
Baseado em peça de Nelson Rodrigues, Barreto mostra o poder da imprensa sensacionalista ao criar polêmica sobre um homem que atende o último pedido de um rapaz que é atropelado, dando-lhe um beijo na boca.
É sempre bom ver filmes nacionais de 40 anos atrás. Bom para ver a estética praticada pelo autor; o conteúdo tratado – que funciona como um recorte cultural da nossa história; e não menos importante, o registro visual dos nossos “ancestrais”.
É, no mínimo divertido, ver o corte de cabelo que as pessoas usavam, os carros da moda ou aquele telefone vermelho que um dia a gente já teve e que hoje é vendido por 100 reais no brique da Redenção ou em uma feira de antiguidades mais próxima. Sem dúvida, esses registros compõem a funcionalidade do audiovisual e feliz do país que produz filmes todos os anos e que ultrapasse gerações.
Em Beijo no Asfalto, um conteúdo tratado é muito atual: o homossexualismo (ou as questões que o cerca). Inspirada em uma das peças mais polêmicas de Nelson Rodrigues, o filme põe esse tema em cena e revela a repercussão social de uma cidade que lê nos jornais a história de um homem que beijou outro na boca, quando este estava em seus últimos segundos de vida, após ser atropelado. Comparando as reações das pessoas representadas no filme, com a nossa situação atual, podemos perceber que evoluímos demais em relação a 1980. O homossexualismo, ou simplesmente, o afeto, já é algo mais banal nos nossos dias – no bom sentido. Entretanto, é triste ver que algumas reações “engraçadinhas” e atos de hostilidades ainda são recorrentes em 2012 e quase idênticas às do século passado.
Em relação à estética, Bruno Barreto não dá show. Apesar de se valer de um roteiro bem amarrado e de interessantes movimentos de câmera e alguns planos especiais – como na cena do estupro ou em meros diálogos na cozinha – o diretor ainda é tímido, sem alcançar a genialidade de Nelson Gonçalves, ou de outros cineastas brasileiros que, na época, ainda sacudiam o cinema nacional, instigados pelo “cinema de autor”.
Minha nota: 7,2
IMDB: 6,7
MelhoresFilmes: 5,7